No Brasil, a medicina
popular é resultado de adaptações das práticas utilizadas pelos índios e seus
pajés que faziam uso das plantas nos rituais místicos de cura, com cânticos e
danças. A ingestão de infusões, a aspiração de fumaça e a aplicação local de
ervas maceradas eram práticas comuns entre os silvícolas. Os feiticeiros
negros que aqui aportaram, utilizavam banhos de ervas e plantas e, ainda,
acrescentavam pêlos e chifres em seus rituais mágicos. O europeu deu a sua
contribuição, não aprofundando o estudo sobre a utilização dos vegetais como
meio de cura, mas propagando-lhes as qualidades e eficácia no tratamento de
doenças. Foram eles os responsáveis pela introdução do alecrim e da hortelã,
dentre outras. Hoje é praticamente impossível, distinguir de qual cultura –
negra, branca ou índia é a origem de determinados preparados. São diversas as
formas de medicina popular.
Existem aquelas que são
tipicamente de origem indígena, mesclada coma contribuição dos negros
africanos e investigação e difusão pelos portugueses e jesuítas e que compõem
o que conhecemos hoje como fitoterapia. São as que utilizam as plantas para
elaboração de chás, ungüentos, lambedouros, purgantes e outros preparados,
como emplastros de folha de pimenta para picada de marimbondo ou chá de folha
de abacateiro, para problemas renais.
Há a medicina
especializada em curas de doenças adquiridas por motivos ou ações
sobrenaturais. Têm origem africana e indígena e é encontrada nos rituais de
candomblé, umbanda e macumba. São utilizadas técnicas como benzeduras, um
conjunto de rezas proferidas por benzedeiras, curadores e rezadeiras; as
simpatias, cuja palavra tem origem no grego e significa “a sentir juntos o
mesmo” e que são práticas que podem ser utilizadas por qualquer pessoa, para
curar verrugas, hemorróidas, asma, epilepsia, soluço, para fazer o cabelo
crescer, para não secar o leite materno na hora do parto, para sais a
placenta após o parto, dentre outros benefícios e que muitas vezes aparecem
em conjunto com remédios e rezas; e, os patuás, santinhos, talismãs e
amuletos, pequenos objetos que se acredita podem ser utilizados para prevenis
ou curar doenças. Vale citar algumas simpatias curiosas: Apanhar a aliança de
ouro, esfregá-la até ficar quente e passar no terçol três vezes. O terçol
desaparecerá; beber água da campainha do altar, para curar gagueira; bater um
prego numa árvore para livrar de febre, dor de dente e hérnia; de manhã, ao
levantar, antes de iniciar a jornada e à noite antes de dormir, encostar a
barriga na parede da sala ou cozinha, por três vezes e dizer: “vai embora,
barriga”. A barriga diminuirá; para a mulher não sofrer enjôos durante a
gravidez, ela deve soltar uma baforada na nuca do marido quando ele estiver
dormindo, pois assim transmite os enjôos para ele durante todo o período.
Há a medicina que utiliza
a religião como força para a cura. Neste caso a devoção popular invoca certos
santos como especialistas na cura de certos males, como São Sebastião, para
curar feridas; Santa Luzia, para curar doenças dos olhos; São Lázaro, para
cura da hanseníase; ou, Nossa Senhora do Bom Parto, para ajudar na gestação.
O tipo mais esquisito de medicina popular é a escatológica, que utiliza
substâncias ou ações consideradas repugnantes ou anti-higiênicas como cera de
ouvido, urina, saliva, dentre outros. Os preparados vão de formiga saúva
torrada com café para crises de asma, a urina de vaca misturada ao leite para
tratar coqueluche ou urina humana, para aliviar dores de queimaduras; a
primeira saliva da manhã, para curar feridas, ou, ainda, para prisão de
ventre, o chá de cabelo e da palha de milho com esterco de poleiro de
galinha.
Várias plantas e ervas são
utilizadas ainda hoje no Nordeste para cura de doenças, como por exemplo: a
romã – Punica granatum L. (punicaceae), para eliminação de vermes intestinais
chatos (tênia ou solitária), podendo, ainda, a casca, ser utilizada para
tratamento de dores de garganta e tratamento de inflamações na boa e região
genital; a babosa – Aloe Vera (L.) Burm.F.Liliaceae, cuijo sumo é to de
ferimentos, doenças e queimaduras de pelo e suas folhas trituradas,
misturadas com álcool e água para compressas e massagens em contusões,
entorses e dores reumáticas; O mastruz – Chenopodium ambrosioides L.
(Chenopodiaceae), de forte aroma e também conhecida como mastruço,
erva-formigueira ou erva-de-santa-maria, tem entre seus principais usos, o
tratamento de ascaridíase, o controle de pragas domésticas, o alívio de dor
de barrida e da gripe, o tratamento de lesões da leishmaniose, além de
proporcionar a cicatrização de ossos; o capim-santo – Cymbopogon citratus
Stapf. (Gramineae), base de um chá para alívio de cólicas uterinas e
intestinais e no tratamento do nervosismo e dos estados de intranqüilidade; a
goiabeira vermelha – Psidium guajava L. (Myrtaceae), útil no tratamento de
diarréias e também das inflamações na boca e na garganta, quando usada em
bochecho ou gargarejo; a fruta da goiabeira, tanto branca quanto vermelha,
tem muita vitamina C e recomenda-se incluí-la na alimentação; a macela –
Egletes viscosa (L.) Less. (Compositae), comum nas margens das lagoas,
riachos e açudes, é empregada como preventivo da gastrite por abuso de
bebidas e alimentos e para aliviar os sintomas de enxaqueca, dispepsia, azia
e indigestão; o malvariço – Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng.
(Labiatae), é indicado como anti-séptico bucal, demulcente e balsâmico muito
útil no tratamento da rouquidão, de inflamações da boca e da garganta, tosse
e bronquite. Sua principal forma de uso é como lambedor, um tipo de xarope.
São comuns, também, as garrafadas, uma panacéia que serve invariavelmente
para todas as doenças. Para a sua confecção são utilizados raízes, cascas,
folhas e frutos macerados, sendo a infusão, normalmente, feita em aguardente
ou vinho branco.
Em Teotônio Vilela, como
em várias regiões do Nordeste, alguns remédios curiosos e pitorescos, são
utilizados pela população, podendo ser citados, dentre outros: Para Ameba –
Tomar durante 30 dias, em jejum, um copo de água fria, com três gotas de
creolina; Para Bicho-de-Pé – depois de retirado o bicho, com o auxílio de um
alfinete, encher a cavidade com sarro de cachimbo; Para chulé – lavar os pés
com urina de criança;[ Para dor de ouvido – colocar no ouvido doente três
gotas de leite materno; Para “galo” na cabeça – ao levar uma pancada, colocar
sobre o “galo”, sob forte pressão a folha de uma faca fria; Para impotência
sexual – comer testículos de boi, assado; Para expulsar lombrigas – comer coco
seco raspado, em jejum, até aborrecer; Para que a mulher venha a ter filhos –
tomar água antes das relações sexuais ou dar ao marido, todos os dias, no
almoço, carne de carneiro preto, com um copo de vinho; Para prisão-de-ventre
– tomar chá de cupim; Para verruga – colocar sobre a verruga um pouco de
mênstruo ou amarrar a verruga com um fio de cabelo. Segundo os raizeiros,
dentre outros “santos” remédios, a cura da tosse se dá com chá de flor de
cravo-de-defunto, de folhas de arruda ou de casca de jatobá ou, ainda,
“também, põe-se na água uma porção de raspa de juazeiro, tiram-se sete
espumas e, em seguida,s e bebe”; para a gripe, o melhor seria o chá de flor
de sabugueiro; para tumores, recomendam as folhas de carrapateira, babosa,
courama, cabaceira, pimenteira, quase sempre ungidas de azeite de mamona;
para hemorróidas, o chá com cinco pequenos brotos de melão-de-são-caetano;
para a impotência sexual a catuaba, o murici ou o chá de caroço de abacate.
Na feira de rua vilelense
existem vários raizeiros, figuras indispensáveis nas feiras populares e
pessoas profundamente conhecedoras da flora medicinal nordestina e de sua
aplicação, que diuturnamente se embrenham nas matas a procura de aroeira,
jatobá, jurubeba e outras dezenas de vegetais para vender nas feiras ou a
repassar para pessoas interessadas ou compor medicamentos para serem
aplicados em doentes. O negócio dos raizeiros inclui, dentre outros produtos,
cavalo marinho e estrela do mar secos usados no tratamento da asma;
pau-d'arco para doenças do coração, banha de jibóia e de ema para reumatismo
e dores no corpo; semente de andiroba, para tirar peste de cachorros, porcos
e galinhas; imburana-de-cheiro, para o sangue; velame, ervas para
constipação, além de defumadores para mau olhado.
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O objetivo é resgatar a memória do dia-a-dia da cidade e valorizar a cultura vilelense, revelando as histórias das ruas, bairros, povoados, praças, igrejas e fatos que contribuíram para o desenvolvimento sociocultural da nossa cidade.
sábado, 7 de julho de 2012
VILELENSES X MEDICINA POLPULAR
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