sábado, 7 de julho de 2012

A Cura pela Fé: O trabalho de Rezadeiras e Curandeiras Vilelenses


Hoje, essas pessoas usam métodos menos dramáticos para aliviar os males de seus clientes do que aqueles usados há décadas atrás. Na maioria das vezes, utilizam rezas como o Pai Nosso ou as Ave Marias, dentre outras orações católicas, aplicando banhos de soluções feitas com plantas nativas ou aspergindo esse líquido com pequenos ramos. É possível supor que a prática de rezas e benzeduras advém das civilizações indígenas e da influência dos negros e da colonização européia. Além disso, a Igreja colonizadora através de seus missionários não se fazia presente nos locais mais distantes cabendo, então, a determinadas pessoas fazer o elo de ligação entre o doente e aquele que providenciaria a sua cura – Deus. Ainda hoje, rezadeiras e benzedeiras, rezadores e benzedores julgam-se mediadores de uma ação do divino. Questionados, em sua maioria argumentam que têm um dom sagrado, uma especialidade que receberam de Deus, que lhes enche de força e sabedoria, para que o representem e realizem o trabalho de cura e proteção daqueles crentes e fiéis. A maioria das pessoas que lidam com curas e práticas espirituais, consideradas como uma dádiva de Deus, não fazem cobrança de dinheiro e recusam-se, na maioria das vezes, a receber qualquer tipo de pagamento, mesmo em forma de presentes, na maioria das vezes, aves, hortaliças, frutas e animais destinados à alimentação. Além do limite a que se impõem em função da missão sagrada em que estão envolvidas que lhes impede de receber esses donativos, a própria situaão econômica das pessoas que os procuram não permite que dinheiro ou presentes caros sejam oferecidos. Os clientes são pessoas muito humildes, de baixo ou quase nenhum poder aquisitivo. Muitas vezes não têm acesso sequer a transporte que os leve a médicos ou condições de participar de uma consulta médica, ainda que em hospitais públicos. Rezadeiras, rezadores, benzedeiras e benzedores afirmam que seu dom vem desde a mais tenra infância quando aprenderam as primeiras orações e descobriram seus poderes. Nas histórias contadas aparecem avós, tios, mães, pais e outros parentes como portadores desse dom. No entanto, a herança espiritual vem de um pedido dos ascendentes, mas muitas vezes de iniciativa dos próprios rezadores, que diante da manifestação de alguma doença ou necessidade, sentem-se impelidos a atuar. Muitas vezes, também, rezadeiras já no fim de suas carreiras descobrem alguém com quem têm alguma afinidade espiritual e em quem identificam como portadora do dom da reza e, de certa maneira, adoram, criam e educam esse novo rezador para função. A maior qualidade da rezadeira está na sua vida exemplar, sem vícios ou comportamentos que comprometam a sua imagem de representante do sagrado e que a tornam uma referência para a comunidade. Geralmente é figura de grande popularidade e dotada de um grande carisma e empatia com a população. À medida que vai curando pessoas da comunidade, sua fama vai se consolidando e, inclusive, na maioria dos casos, espalhando-se por outras localidades e regiões. Não há uma predominância da religião católica entre os rezadores. Podem ser católicas, evangélicas, umbandistas, espíritas ou ligadas a candomblé ou outra religião ou seita. O que é importante é que todos são intermediários do sagrado e a Deus, Nossa Senhora, aos orixás, aos caboclos e a outras entidades, devem seu dom e por eles devem exercê-lo. Dentre os rezadores, curadores, rezadeiras e curandeiras espalhados pelo município e povoados, podem ser citados:
Dona Tereza que reza nove vezes para dor de dente, pé inchado, braço desconjuntado e outras enfermidades, de preferência nas sextas-feiras; Dona Regina, que só aplica suas rezas à luz do dia, com ramo de qualquer planta; Todos eles têm como base de seu trabalho orações como Padre Nosso e Ave Marias, ajuda de espíritos e invocações de santos, alguns específicos para determinadas doenças e utilização de pequenos galhos ou ramos de árvore, para complementação do ritual com a aspersão de água no doente.
 O público que mais os procura são crianças e velhos, mas também são procurados por pessoas de outras faixas etárias, para cura de problemas como quebranto, mau-olhado, ventre-caído, prisão de ventre, erisipela, vermelha, febre alta, encosto ou obsessão de espíritos, espinhela caída, cobreiro, tristeza, dores de barriga, de ouvido ou em outras partes do corpo. 


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